terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Complexo de Portnoy - Philip Roth

O melhor caso que nem Freud resolveria

1969. Quem diria que esta bíblia da mentalidade judaica, acrescida de uma potente dose de sexualidade, beirando a pornografia, poderia ter sido composta em fins dos anos 60. A verdade é que o livro é tão atual e trata de temas tão cotidianos de uma forma tão vívida que passa a impressão de que foi escrito na noite de ontem.




Alexander Portnoy, o herói retratado, é um bem-sucedido advogado da cidade de Nova Iorque e que hoje está sentado o divã de seu analista, contando sua história. Todos seus temores, experiências dignas de serem relatadas e problemas, talvez sem solução, nos são expostos em duzentas e cinqüentas páginas do melhor e mais efetivo bom humor.

Portnoy vive numa eterna contradição consigo mesmo. Possui fortes impulsos étnicos – amor e orgulho judeu – e desejos sexuais extremos que surgem de maneira pervertida, mas que acabam por fazer com que ele desenvolva um forte sentimento de culpa. Seu caráter devasso faz dele uma peça sem utilidade num ambiente de repressão em alta escala – os Estados Unidos do auge da revolução social e sexual –, um inválido numa terra de gente que precisa parecer sadia de corpo e alma.

A narração superfluida de Roth nos embala, nos comove e, principalmente, nos faz rir com o monólogo lamentoso e hilário do personagem principal, com suas desventuras em sua vida cheia de acontecimentos, encontros e experiências que ele mesmo falha em perceber que teve.

A obra fala de um advogado judeu americano dos anos 60. Muito bem. Porém, após a leitura desta, obra olhe-se no espelho e veja se não há sobre sua própria face, cobrindo seu rosto como uma máscara, a face de Portnoy. Afinal de contas, não somos assim tão diferentes dele.

Altamente recomendado.


Ricardo Machado 14/08/2011 (lido em português)

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